Há muito tempo que ando para te (d)escrever.
Deixou de ser uma vontade, sabes? Neste momento, sinto necessidade de te passar para o papel.
Vou à biblioteca, em busca de sossego.
A simpática bibliotecária, recebe-me com os seus cumprimentos e sorriso habituais.
Peço-lhe uma folha de rascunho. Aliás, peço um molho delas.
Novamente, a amável senhora sorri, estendendo-me uns folhetos da Câmara Municipal, com o verso em branco.
A verdade é que já está habituada.
Munida de papel e caneta, dirijo-me para o corredor da "literatura", talvez na esperança de me sentir "inspirada" pelo simples facto de estar entre tantos brilhantes escritores. Procuro uma mesa livre e sento-me.
Olhando em volta, cumprimento estes escritores, que vejo mais como amigos e companheiros de longas tardes e serões. Wilde, Dickens, Shakespeare... Mais ao lado, Goethe, Tolstoi... Ao longe, os queridos Eça, Pessoa, Florbela Espanca e José Régio, entre tantos, tantos outros.
Regresso à minha mesa e à minha folha em branco; preciso mesmo de escrever.
Penso em ti.
"Pensas demais!", costumavas repreender-me...
Como estás? Há algum tempo que não tenho notícias...
Sabes, tenho saudades tuas...
Já to disse, mas parece que não ligaste...
Começo a escrever.
Procuro (d)escrever tudo com a maior exactidão e eloquência, mas às vezes fica difícil. Acredita que são poucas as palavras que te fazem jus. Penso que também já to disse, mas acho que voltaste a não fazer caso...
Entretanto, fui riscando os meus "pensamentos".
Nada se aproveita.
Numa derradeira e desesperada tentativa, vou para a terceira folha do dia...
Bolas, és difícil!
Nunca me foi difícil escrever, sabes? Estou habituada a que as palavras escorram do bico da caneta. E agora, que ando sempre contigo na cabeça, que estás presente em tudo o que penso, faço ou digo e que mais preciso de decarregar tudo para o papel, não o consigo fazer.
Porque será? Há que concordar, isto não é normal!
Mas também, contigo nunca nada era normal...
(suspiro saudoso)
Vou tentar explicar:
Já sentiste alguma vez, ao saíres à rua numa manhã fabulosa, parecer que nunca o tinhas feito antes? Bem, os meus dias contigo eram todos assim. Tudo era novidade, desde olhares trocados à mais trivial das conversas...
As pessoas gozam, "O céu é azul, o sol brilha e os pássaros cantam", mas a verdade é que, apesar de estranha, esta sensação de ir redescobrindo o mundo todos os dias era muito boa... entre outras coisas, acho que o Amor deve ser isso mesmo...!
Sabes quando é que senti mais tudo isto?
(Aposto que não sabes!
Ou talvez saibas, mas naturalmente (e bem) vais fazendo por não pensar nisso. Exemplos como o teu são os que eu devia seguir.)
Quando me abraçaste.
Podia jurar que nunca tinha sido abraçada antes.
O turbilhão de sensações e sentimentos é tal, que tremo só de tentar recordá-lo.
O perfume, o toque, o silêncio, tudo passou de "meu" e "teu" para se transformar em "nosso".
O nosso abraço...
Gosto muito de ti, sabes?
Tenho muita pena que tenhas desaparecido! (e olha que eu odeio ter pena!)
Quero voltar a ser recebida pelo o teu sorriso que, apesar da sua gota de timidez, era sempre tão simpático.
Tenho saudades de reparar na forma analítica e cuidada como, discretamente, observavas tudo e todos à tua volta.
Já não aguento sentir falta das tuas mãos enormes, tão enérgicas e expressivas, e estou farta de ansiar pelo teu silêncio, enquanto me envolves ternamente nos teus braços!
"O Amor não se pensa! Sente-se! Vive-se!" - disseste-me, uma vez, coberto de razão.
Mais que saudades tuas, tenho saudades nossas...
Acima de tudo, sadades do encaixe perfeito do nosso abraço!
Mentiroso, prometeste-me que não ias desaparecer...
Por favor, volta depressa!
Fazes-me falta.
Um grande beijinho, carregado de saudades,