Saturday, February 02, 2008

Salvem os Conservatórios!

Surreal?!
Surreal é pouco...!
O Ministério da Educação, sob a bandeira falaciosa de uma democratização do ensino musical, prepara-se para extinguir o ensino especializado da Música no país.
Crianças entre os 6 e os 9 anos, assim como os alunos de idades mais avançadas, serão obrigados a pagar o ensino de qualidade em escolas privadas.
A cultura musical ficará empobrecida, mais cara e elitista!
Não se compreende...!

O Governo actual de José Sócrates visa implementar medidas com efeitos imediatos (já no próximo ano lectivo) que determinam claramente o seu naufrágio, na medida em que uma grande escola com cerca 900 alunos e uma espectacular pulsão vital (alunos no regime de iniciações, integrado e supletivo) fica imediata e irremediavelmente reduzida a uma escola insignificante com cerca de 50 alunos (apenas aqueles que estão no regime integrado).

Acordai!

Eurico Carrapatoso


Porque não podemos concordar com a Ministra da Educação,
Por uma Escola Artística pública e de qualidade!

-Extinção do ensino musical especializado no 1º ciclo

Por decisão ministerial, as escolas públicas de música (vulgo Conservatórios) vão ser impedidas de dar aulas ao 1º ciclo (chamados cursos de iniciação).
Assim, os actuais e futuros alunos (dos 6 aos 9 anos de idade), se quiserem continuar a estudar música, terão de frequentar aquilo que o estado passa a oferecer gratuitamente, as actividades de enriquecimento curricular (AEC). No fundo, passa-se de um currículo de 6 horas semanais com estudo individual de instrumento, orquestra, formação musical, coro e expressão dramática, para uma actividade de currículo ainda desconhecido, provavelmente com a duração de apenas duas horas semanais.
Se por acaso o aluno quiser continuar com a mesma formação que as actuais iniciações oferecem, terá de se inscrever numa escola particular, deixando de pagar a propina anual da escola pública (que em Lisboa é de 45€) para passar a desembolsar grandes quantias em dinheiro.
Ao tomar esta atitude de alargamento da oferta de ensino musical através das AECs e de inviabilizar o ensino do 1º ciclo (iniciações) nos Conservatórios, o Ministério impede o ensino especializado de oferecer um ensino de qualidade que visa o desenvolvimento da criança na idade ideal para o início da formação como instrumentista. (Suzuki, Gordon, Manturzewska, Lhemann, Schuter-Dyson, Sosniak, Bloom).
A razão pela qual se extingue o 1º ciclo das escolas públicas de ensino especializado de música não tem como finalidade uma verdadeira democratização do ensino musical, assumindo declaradamente uma componente apenas de formação genérica, visando competências diferentes das que actualmente os Conservatórios oferecem para estas cargas etárias. A verdadeira razão encontra-se na necessidade de libertar os docentes que actualmente leccionam as iniciações, procedendo ao seu despedimento e posterior reconversão para leccionarem as AECs, pelas quais serão remunerados abaixo do seu actual estatuto, pois o Ministério sabe que nem a médio prazo terá docentes em número suficiente para a tal generalização do ensino da música ao 1º ciclo.
Trata-se apenas de uma operação de engenharia financeira sem ter em conta a degradação de qualidade que este novo sistema irá introduzir no ensino da música - sistema, este, que irá produzir indubitavelmente efeitos perversos e anti-democráticos já que terão naturalmente preferência na admissão às escolas públicas (a partir do 2º ciclo) aqueles candidatos que demonstrem maiores competências, competências essas que passarão a ser exclusivo do ensino particular a preços elevados.
Haverá um favorecimento daqueles que têm maior capacidade económica para proporcionarem essa formação aos seus filhos em detrimento da criança de meios sócio-económicos mais desfavorecidos.
Não se deve, com o pretexto da criação de um ensino generalizado da música, extinguir o ensino vocacional (especializado).

-Regime de Frequência Supletivo Sua Extinção

Com a intenção de reduzir a frequência destas escolas apenas ao regime integrado, será negada a existência tanto do regime supletivo como do articulado.
O regime articulado permite às famílias organizar a formação dos seus educandos através de uma articulação de tempos lectivos e de escolas, nomeadamente permitindo a escolha da escola básica e a gestão do seu currículo.
Simultaneamente, o regime supletivo permite às famílias escolherem as escolas e sobretudo ao aluno não ter que ficar agarrado apenas à opção música, realizando dois percursos paralelos até que a sua decisão de formação esteja definida.
Com especial furor ataca o Ministério da Educação o regime de frequência supletivo.
Este regime de frequência caracteriza-se por permitir ao aluno frequentar as disciplinas musicais no Conservatório e as do ensino geral na escola de sua escolha.
Afirma o Ministério que este regime de frequência se caracteriza por ser um ensino avulso no qual o estudante poderá ele próprio compor o seu currículo, sem obrigação de nenhum tipo de regras de precedências, podendo eternizar a sua presença na escola.
Mais afirma o Ministério que o regime supletivo não permite uma certificação no final do ensino secundário visto o aluno poder optar por um diploma de ensino secundário de outra vertente, naquela em que frequenta as disciplinas não musicais.
Não havendo certificação, não há sucesso escolar, conclui sem mais nem menos o Ministério. Para a 5 de Outubro os Conservatórios não formam alunos.
Vejamos o que realmente caracteriza este regime de frequência, aquele que é escolhido pela grande maioria dos alunos e encarregados de educação:
1º - Os alunos do regime supletivo são obrigados até ao final do 3º ciclo a frequentarem exactamente o mesmo nº de disciplinas que os alunos dos outros regimes, a saber: integrado e articulado. Obedecem às mesmas regras de precedência e de estudos.
2º - Durante o ensino secundário nesta escola, são obrigados a frequentar anualmente pelo menos três disciplinas, a saber, instrumento, formação musical e classe de conjunto. Também aqui o aluno não pode frequentar apenas uma só disciplina.
3º - O aluno do regime supletivo raramente obtém um diploma secundário de música pois já o obteve ou vai obter na via e curso que frequentou na outra escola secundária onde realizou a formação não musical.
4º - Não. O facto de se emitirem poucos diplomas secundários de ensino da música não é sinónimo de insucesso escolar, pois não exigindo o ensino superior da especialidade nenhuma classificação específica do ensino secundário de música, o aluno prefere fazer uma preparação paralela num curso científico-humanístico e logo que se sente preparado concorre para o ensino superior de música ou sai para a vida profissional. Será necessário deixar aqui claro que para se exercer uma profissão no campo da música, os diplomas não são necessários pois as pessoas têm que passar uma audição pratica para obterem o lugar. A única ocasião de que precisam de um diploma é para seguirem a carreira de ensino e para esta necessitam sim do diploma mais qualificado que é o do ensino superior e não o secundário.
5º - Provando que a não obtenção de diploma secundário de música não é sinónimo de insucesso escolar poderemos verificar que só na Escola de Música do Conservatório Nacional nos últimos seis anos 125 alunos seguiram os seus estudos superiores e cerca de 183 alunos foram para a vida profissional, ou seja a Escola foi o veículo escolhido pelos alunos para lhes dar a formação necessária para seguirem carreira. O Ministério deveria encontrar uma solução para este problema da certificação e não limitar-se pura e simplesmente a acabar com o regime de frequência supletivo.
6º - A verdadeira razão porque se acaba com o ensino supletivo e se recomenda que nas escolas públicas apenas se pratique o regime integrado está agora à vista, quando sabemos que o interesse fulcral da Ministra da Educação é a extensão das AECs vertente música, a todas as escolas do 1º ciclo. Para isso necessita de docentes. A Srª Ministra sabe que só assim obterá escolas muito mais pequenas implicando o despedimento de professores a nível dos 2º , 3º ciclos e secundário. Estes docentes servirão naturalmente para ministrarem as AECs.
7º - É fundamental que os Pais e Encarregados de educação percebam que a coberto de uma pseudo “democratização” do ensino da música se vai na realidade reduzir a prática musical apenas às AECs, e sobrecarregar as finanças familiares se se optar por prosseguir com uma formação específica agora apenas numa escola privada. De notar igualmente que com a extinção do regime supletivo se está a obrigar muito mais cedo o encarregado de educação a tomar a opção de uma carreira para o seu filho, visto só ser possível o ensino integrado nas escolas públicas, o que é obviamente difícil e claramente indesejável.
8º - É ainda preciso considerar o curso de canto, frequentado totalmente em ensino supletivo por alunos maiores de 17 anos, de acordo com as regras até hoje em vigor e definidas em Regulamento Interno, cuja viabilidade continua por discutir.

Pelo que foi dito nos números anteriores, poderemos afirmar que o regime de frequência supletivo é credível e formador de músicos em igualdade de circunstâncias com qualquer outro regime de frequência, e que a sua diabolização pelo Ministério obedece apenas a interesses de ordem financeira e não pedagógica.

2 comments:

Miguel Carneiro said...

Por essas e por outras kada vez mais hei de me perguntar onde se encontra a politica do PS ... D eve andar extrama direita ou assim ... os numeros sempre á frente da população...
é trizte mas ....
Só cretinos mesmo lá no Poder...

Anonymous said...

A mim não me diz respeito directamente, visto ser aluno da Academia de Amadores de Música, mas mesmo assim não deixo de ficar preocupado(e bastante) com a situação!
Indirectamente e a medio/longo, há vários pontos que me afectam:
1.a cultura neste país está cada vez mais miserável.. fechando conservatórios queremos voltar aos tempos de ditadura onde a palavra de ordem era (entre outras) "Orgulhosamente sós"! Nos outros países já se cultiva e valoriza a música e o seu respectivo ensino há anos... Enquanto estávamos 25 anos atrasados tudo bem (sim.. peramente estas medidas até quase que sinto vergonha em ter-me queixado há uns anos sobre a cultura e as medidas que o governo tomava em relação a mesma...), mas agora ATRASAR AINDA MAIS?
2.Daqui a uns anos quando concluidos os estudos no ensino superior, como vai ser para darmos aulas?! Já tenho experiência de dois anos a dar aulas em escolas primárias e adoro, mas de certeza que depois de mais de 10anos a estudar um instrumento não quero ficar-me por ai... nem eu nem ninguem!
3.Como vai ser na formação dos musicos em Portugal?! Vamos deixar de os ter?! Por favor...
4.Sem ter musicos suficientes vão deixar de haver concertos ou pretendem contratar os instrumentistas todos de uma orquestra (por exemplo) no estrangeiro?
5.AHH... ja sei, se calhar querem que o pessoal que estude musica seja daquela elite que se vai pavonear para os concertos da gulbenkian com casacos de pele e cabelos cheios de laca... e onde nos que vamos de calças de ganga somos olhados de lado!

Apesar de tudo isto e de estar chocado, até não me admiro que este governo tome medidas neste sentido, já fechavam maternidades, escolas, urgências, centros de saúde só faltava mesmo a cultura para ficarem ainda mais contentes... mas desta vez vai ser diferente porque nem que seja preciso tocar dia e noite sem parar a porta do conservatorio... havemos de ir para la mostrar quem manda! (E com este comentario sindicalista/bloquista me despeço e espero que tudo se resolve e que isto não passe de uma preocupação nossa...)

EVITA ESTE PAIS!!!