Acabada de chegar do Porto...

Grande fim de semana!!

Sexta feira, depois de duas audições no conservas, eu e a Teresa saimos a correr para apanhar o combóio para o Porto.
A viagem foi demorada, mas divertida - o rapaz que ia sentado ao meu lado ria-se muito com os disparates que iamos dizendo..!
Chegadas ao Porto, à já conhecida estação da Campanhã, tivemos de ficar uma hora e três quartos, à espera do comboio para Paredes - isto porque, além de estar apanas um senhor nas bilheteiras a atender um monte de gente, as senhoras à nossa frente lembraram-se que queriam comprar bilhetes para não sei quantos dias..!
Enfim, depois de não sei quantas horas à seca, chegámos a Paredes, cidade onde íamos ficar durante o fim de semana para fazer a masterclass, por volta das 2h da manhã.
Ora bem, não havia táxis em lado nenhum, autocarros nem pensar e ver pessoas era mentira. Felizmente avistamos duas velhinhas com sotaque de "Bijeu" que nos têm a amabilidade de dizer "Daqui aos bombeiros?! Xempre a direito meninas! Em 25 minutos estão lá...".
Bem e lá fomos nós, encasacadas, de malas, mochilas e violoncelo às costas "a direito", por uma rua que nunca mais acabava.
Não se via ninguém...
De tal maneira que as ruas faziam eco quando falavamos!
Zero pessoas, sabem o que é?!
Assustador...!
O melhor foi quando dissemos "Isto não pode piorar...".
Sim, começou a chover...
Bem, entertanto enquanto dávamos e não dávamos com o caminho, a Teresa foi mantendo conversa com o recepcionista do hotel (que a certa altura já lhe ligava a responder a toques! Incrível).
Cerca das 3h da manhã, gritou-se "vitória!" em Paredes. Tinhamos chegado ao hotel.
Foi completamente "xixi e cama" depois de cada uma atirar com as suas malas para um canto, porque no dia seguinte a masterclass começava às 10h.
Sem a mínima noção de distância e do tempo que levariamos a andar do hotel à academia, resolvemos por o despertador para as 7h, não fosse o diabo tecê-las...
Os pequenos almoços no hotel foram óptimos, mas estranhámos um bocado sermos as únicas pessoas na sala. Zero pessoas a tomar o pequeno almoço. Então e o pessoal da masterclass? Será que a escola é mesmo longe e eles já foram?!
Com aproximadamente 3.30h de sono em cima, pusemo-nos a caminho outra vez. Felizmente, já não chovia.
Paredes deve ser a terra campeã de jardins particulares. Logo de manhãzinha, ainda não eram 9h, já estava um monte de pessoas de volta das suas flores! Todos os jardins, quintais e canteiros, por mais pequeninos que fossem estavam impecavelmente arranjados! Não há vedações nem cercas a separar as coisas, não há nada! Só flores.
Demos logo com a academia, que ficava a aproximadamente 15 minutos a pé do hotel.
Como devem imaginar, chegámos cedíssimo, eram 9h, estava a senhora a abrir a escola, pelo que pedimos uma sala para aquecer os dedos e estudar.
Interrompemos o nosso Allegro Appassionato com a entrada de uma bisarma na nossa sala. Um homem altíssimo, de olhos azuis, com uns grandes caracóis louros, sotaque soviético e violoncelo às costas tinha acabado de entrar e de dizer "Buom dia! São vocês mininas de Lisbuoa?"
Não vou descrever a masterclass ao pormenor, porque nunca mais saía daqui, além de que temos vídeos a documentar os melhores momentos!
Citando o grande Sascha, passei de "uma camponesa a marchar para o trabalho e a cortar lenha com um serrote" a uma "artista apaixonada", pelo que acho que o fim de semana foi bastante positivo.
Apesar da audição ter sido sofrida, o prof. de Paredes (o Sérgio - um rapaz ainda muito novo, com quem travámos amizade) disse que eu tinha tido (e passo a citar:) "momentos muito bons, muito bonitos, mesmo!", o que me deixou um bocadinho mais animada!
O Sérgio foi um fixe connosco! Deu-nos boleia para o Porto, poupando-nos uma viagem de comboio e outra da táxi!
Na pousada da juventude não tinham quartos, pelo que nos encaminharam para uma pensão muita manhosa (cujo nome não vou revelar), perto da Avenida dos Aliados. Depois de subirmos para o último andar de um prédio a cair de podre (note-se que estavamos MUITO carregadas e algo cansadas!) e de pousarmos as coisas no cubículo mais surrealmente pequeno que possam imaginar, voltámos para a rua e fomos à procura de um sítio para jantar.
Acabámos por ir à Ribeira e, apesar do briol que se fazia sentir (a vista valia a pena!), comemos um bife de salmão grelhado que estava de se lhe tirar o chapéu.
Voltamos à pousada da juventude, tinha umas pessoas para ver!
Que saudades de algumas daquelas caras, daqueles abraços, daqueles sorrisos, daqueles beijinhos e daqueles olhares...
Que saudades... da Filó, da Ursa, da Bárbara, do Lourenço, do Ricardinho, do Félix... foi tão bom voltar a vê-los, falar e rir com eles...
Bolas, senti mesmo a vossa falta..!
O nosso regresso estava agendado para o dia seguinte, pelo que nos levantámos bem cedo para comprar partituras (comprei o Zapateado, de Sarasate! Eheh!) e passear um bocadinho. São Bento, Av. dos Aliados, Torre dos Clérigos (entretanto começa a chover torrencialmente), Praça dos Mártires (chuva e mais chuva), jardim do Palácio de Cristal (camélias por tudo quando é sítio! Como se ouve no vídeo "A Catarina está no céu!" - levei uma camélia branca comigo!), Boavista e, finalmente, a já conhecida e também saudosa Casa da Música!
Voltar a entrar naquele palco, desviar uma cadeira para o "meu sítio" e voltar a "tocar" excertos do Copland, dos Tchaikovsky's e do Marquez não tem descrição...
Depois, claro, voltar a estar com as pessoas com quem tinha estado na véspera e de quem já começava a sentir a falta...!

Em relação às expressões/frases/palavras/situações que marcaram o fim de semana destacam-se:
"Granda Celiii!! Já cá tamos outra vez! Tiveste saudades nossas?"
"Granda Alexis, Sascha prós amigos!"
"Iiihh, ó russian, dá um desconto que nós só dormimos 3 horas..."
"Suopa"
"Tiema"
"Corda lhá"
"Tens motivo de cantilhiena"
"Setíe"
"-O que é isto?
-Saint-Saens.
-E isto, conhieces?
-Sim, Dvorak.
-E isto?
-Tchaikovsky, Rococo.
- Exactáménte."
"Vibratta mais apertada, faz mais piana!"
"-Era um táxi para a Celeste, sff...
-Quê?! Celeste? Isso é em Paredes?
-É, é em Paredes!
-Oh, só se fôr a Celeste!"
"Granda Séssé!!"
"Bolhãoue!"
"Onde é que tu bais? Morcãoue!!" - esta é, sem dúvida, a minha preferida!

Finalmente, em relação à banda sonora temos:
Concerto nº 3, de Goltermann
Allegro Appassionato, de Saint-Saens
Prelúdio da Suite III, de Bach
Sonata nº1, de Brahms
"Suavemente besa-me" - aos berros no taxi!! Demais...
Trio com piano nº1, também de Brahms - que ouvi(mos) vezes sem conta durante o fim de semana e só nós sabemos porquê..!

Enfim, mais ou menos cobarde, voltei com a sensação de que uma grande parte de mim ficou algures no Porto.
Gostava tanto de poder ir lá na sexta-feira, só para assistir ao concerto deles!
Adorei o fim de semana...!
É incrível, mas já começo a ter saudades..!


Paredes e Porto - Março de 2008