"Em todas as almas há coisas secretas cujo segredo é guardado até à morte delas. E são guardadas, mesmo nos momentos mais sinceros, quando nos abismos nos expomos, todos doloridos, num lance de angústia, em face dos amigos mais queridos - porque as palavras que as poderiam traduzir seriam ridículas, mesquinhas, incompreensíveis ao mais perspicaz. Estas coisas são materialmente impossíveis de serem ditas. A própria Natureza as encerrou - não permitindo que a garganta humana pudesse arranjar sons para as exprimir - apenas sons para as caricaturar. E como essas ideias-entranha são as coisas que mais estimamos, falta-nos sempre a coragem de as caricaturar. Daqui os «isolados» que todos nós, os homens, somos. Duas almas que se compreendam inteiramente, que se conheçam, que saibam mutuamente tudo quanto nelas vive - não existem. Nem poderiam existir. No dia em que se compreendessem totalmente - ó ideal dos amorosos! - eu tenho a certeza que se fundiriam numa só. E os corpos morreriam."
(Mário de Sá-Carneiro, in 'Cartas a Fernando Pessoa')
Música que estou a ouvir: o grande Truls a tocar o 2º andamento da sonata em Lá menor para violoncelo e piano, op. 36, de Grieg - palavras para quê?!
Estador de espírito: particularmente pensativa...
Monday, October 27, 2008
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
1 comment:
Meu Deus!
Estou completamente arrepiado!
Acho que nunca tinha lido nada tão fantasticamente verdadeiro sobre esse tão bem guardado e inalcançável segredo da alma que é o ... não, é melhor não dizer mais nada depois deste parágrafo divino que, se não tivesse sido escrito por Sá-Carneiro, só poderia ter sido escrito por Deus!
... e não é que este génio sabia mesmo destas corrosões interiores que nos consomem!?!
Beijinhos
Barão von Cardoso
Post a Comment