
Desejem-me sorte!
É nestes momentos que recordo com saudade o lamento de um professor muito querido: "Ai, se eu mandasse..!"
Ok, se não conseguir morar aqui, hei de cá passar pelo menos um mês ou dois..!
Há muito tempo que ando para te (d)escrever.
Deixou de ser uma vontade, sabes? Neste momento, sinto necessidade de te passar para o papel.
Vou à biblioteca, em busca de sossego.
A simpática bibliotecária, recebe-me com os seus cumprimentos e sorriso habituais.
Peço-lhe uma folha de rascunho. Aliás, peço um molho delas.
Novamente, a amável senhora sorri, estendendo-me uns folhetos da Câmara Municipal, com o verso em branco.
A verdade é que já está habituada.
Munida de papel e caneta, dirijo-me para o corredor da "literatura", talvez na esperança de me sentir "inspirada" pelo simples facto de estar entre tantos brilhantes escritores. Procuro uma mesa livre e sento-me.
Olhando em volta, cumprimento estes escritores, que vejo mais como amigos e companheiros de longas tardes e serões. Wilde, Dickens, Shakespeare... Mais ao lado, Goethe, Tolstoi... Ao longe, os queridos Eça, Pessoa, Florbela Espanca e José Régio, entre tantos, tantos outros.
Regresso à minha mesa e à minha folha em branco; preciso mesmo de escrever.
Penso em ti.
"Pensas demais!", costumavas repreender-me...
Como estás? Há algum tempo que não tenho notícias...
Sabes, tenho saudades tuas...
Já to disse, mas parece que não ligaste...
Começo a escrever.
Procuro (d)escrever tudo com a maior exactidão e eloquência, mas às vezes fica difícil. Acredita que são poucas as palavras que te fazem jus. Penso que também já to disse, mas acho que voltaste a não fazer caso...
Entretanto, fui riscando os meus "pensamentos".
Nada se aproveita.
Numa derradeira e desesperada tentativa, vou para a terceira folha do dia...
Bolas, és difícil!
Nunca me foi difícil escrever, sabes? Estou habituada a que as palavras escorram do bico da caneta. E agora, que ando sempre contigo na cabeça, que estás presente em tudo o que penso, faço ou digo e que mais preciso de decarregar tudo para o papel, não o consigo fazer.
Porque será? Há que concordar, isto não é normal!
Mas também, contigo nunca nada era normal...
(suspiro saudoso)
Vou tentar explicar:
Já sentiste alguma vez, ao saíres à rua numa manhã fabulosa, parecer que nunca o tinhas feito antes? Bem, os meus dias contigo eram todos assim. Tudo era novidade, desde olhares trocados à mais trivial das conversas...
As pessoas gozam, "O céu é azul, o sol brilha e os pássaros cantam", mas a verdade é que, apesar de estranha, esta sensação de ir redescobrindo o mundo todos os dias era muito boa... entre outras coisas, acho que o Amor deve ser isso mesmo...!
Sabes quando é que senti mais tudo isto?
(Aposto que não sabes!
Ou talvez saibas, mas naturalmente (e bem) vais fazendo por não pensar nisso. Exemplos como o teu são os que eu devia seguir.)
Quando me abraçaste.
Podia jurar que nunca tinha sido abraçada antes.
O turbilhão de sensações e sentimentos é tal, que tremo só de tentar recordá-lo.
O perfume, o toque, o silêncio, tudo passou de "meu" e "teu" para se transformar em "nosso".
O nosso abraço...
Gosto muito de ti, sabes?
Tenho muita pena que tenhas desaparecido! (e olha que eu odeio ter pena!)
Quero voltar a ser recebida pelo o teu sorriso que, apesar da sua gota de timidez, era sempre tão simpático.
Tenho saudades de reparar na forma analítica e cuidada como, discretamente, observavas tudo e todos à tua volta.
Já não aguento sentir falta das tuas mãos enormes, tão enérgicas e expressivas, e estou farta de ansiar pelo teu silêncio, enquanto me envolves ternamente nos teus braços!
"O Amor não se pensa! Sente-se! Vive-se!" - disseste-me, uma vez, coberto de razão.
Mais que saudades tuas, tenho saudades nossas...
Acima de tudo, sadades do encaixe perfeito do nosso abraço!
Mentiroso, prometeste-me que não ias desaparecer...
Por favor, volta depressa!
Fazes-me falta.
Um grande beijinho, carregado de saudades,
Sobre coisas minhas que vou fazendo por tornar "nossas"!